AVALIAÇÃO DO TEOR DE COMPOSTOS FENÓLICOS E FLAVONOIDES EM PÓLEN DE ABELHAS MELLIPONA SP. DO MUNICÍPIO DE CACHOEIRA DO ARARI, ILHA DE MARAJÓ, PARÁ

Williams Carlos Leal da Costa, Programa de Pós-Graduação em Química, Mestrando, UNIFESSPA, carlossoure2010@gmail.com; 
Diana Maria Melo Barros, Licenciatura em Ciências Naturais-Química, Graduada, UEPA, dibarros17@gmail.com
Andrey Moacir do Rosario Marinho, Programa de Pós-Graduação em Química, Doutor, UFPA, andrey@ufpa.br

Resumo: 
Verifica-se que ultimamente a população têm ficado mais atenciosa às propriedades dos alimentos, atitude convergente com a diminuição de riscos à saúde. Para a maioria dos consumidores a manutenção da vida está relacionada com as propriedades/qualidade dos alimentos. Neste âmbito a flora oferece um leque diversificado de fontes nutricionais, sendo o pólen uma destas, possuindo alto teor de enzimas e vitaminas. Diante disso, esta pesquisa voltou-se para determinação do teor de flavonóides e fenóis totais por meio da espectrofotometria no UV – vis, em duas amostras de pólen de abelhas melípona sp. proveniente do município de Cachoeira do Arari, Ilha de Marajó – Pará. Os procedimentos adotados foram os descritos por Andrade et al., (2017). Em síntese, os valores tanto de fenóis totais, quanto de flavonóides apresentaram variações, as quais são oriundas da influência de interferentes naturais.
Palavras-chave: Pólen. Abelhas melípona sp.. Fenóis totais. Flavonóides.

INTRODUÇÃO 
Nos últimos anos a preocupação da população tem aumentado em relação a qualidade dos alimentos, minimizando com esta atitude os riscos à saúde. Para muitos consumidores a qualidade de vida estar intimamente relacionada com as propriedades/qualidade dos alimentos, ou seja, livres de contaminantes, de microrganismos patogênicos ou mesmo outro tipo de substancia que tragam consigo prejuízos à saúde (BRASIL, 2010).

O pólen é uma célula vegetal responsável pela reprodução das plantas, mas que pode ser coletada e levada por abelhas coletoras para a colmeia. Em seguida, sofre processamento pelas abelhas, servindo como mantimento já que possuem alto teor de enzimas e vitaminas. Sendo que cada grão de pólen possui as propriedades químicas da planta de onde foi retirado (NOGUEIRA et al., 2012).

De acordo com Pereira et al., (2015) há em todo o Brasil um grande incentivo a apicultura, pois é considerada por especialistas como sendo uma atividade de elevado poder sustentável, além de ser um complemento na renda de pessoas do campo, pois não precisa de um grande investimento. Com relação a conservação do meio ambiente é grande importância pois conserva a mata nativa e ajuda na polinização.

O pólen apícola, material coletado das colmeias, é de elevado potencial medicinal e tem chamado a atenção de diversos pesquisadores por possuí atividade antioxidante, ação inibidora da oxidação (RZEPECKA-STOJKO et al., 2012). Segundo Mohdaly et al., (2015) um outro benefício que pode ser atribuído ao pólen é sua ação antibacteriana, ou seja, o mesmo atua em microrganismos inibindo sua proliferação.

De acordo com Sattler (2013), o pólen apícola possui em sua constituição um grande número de substancias, tais como: proteínas, lipídios, carboidratos, vitaminas, minerais, enzimas, além de carotenoides que é responsável pela cor e potencial antioxidante. Para Nogueira et al., (2012) sua composição química está intimamente relacionada com as condições ambientais, estação do ano, localidade geográfica e vegetação consultada pelas abelhas coletoras.

Diante disto, este trabalho teve como objetivo determinar a quantidade por espectrofotometria no UV - vis do teor de flavonoides e fenóis totais em duas amostras de pólen de abelhas melípona sp. proveniente do município de Cachoeira do Arari, Ilha de Marajó, Pará.

METODOLOGIA
O desenvolvimento desta pesquisa se deu com duas amostras de pólen, in natura, de abelhas sem a presença de ferrão do gênero Mellipona sp. A coleta desse material botânico foi realizada na comunidade de Quitiá, pertencente ao município de Cachoeira do Arari (latitude: 01º 00' 41" S; longitude:48º 57' 48" W; altitude: 2 m; área: 3.102 Km2), localizada na microrregião Arari, mesorregião Marajó, Estado do Pará (figura 01).
Figura 01 – Localização de Quitiá.
Fonte: Autores (2020).

Assim que o material botânico foi coletado das colmeias acondicionando-os em recipientes para manter o máximo de conservação, em seguida, conduziu-o ao laboratório interdisciplinar de Ciências do Campus XIX, localizado no munícipio de Salvaterra, para que fossem realizadas as análises químicas. No laboratório as amostras de pólen tiveram todas as impurezas retiradas, em seguida, o material foi pesado para que pudesse ser realizada a extração etanólica.

2.1 Construção da curva padrão de ácido gálico
A curva padrão de ácido gálico foi construída utilizando-se soluções etanolicas de ácido gálico com concentrações de 20 a 120 µg/mL. Com as absorbâncias adquiridas foi possível plotar um gráfico (eixo y) versus as concentrações de ácido gálico (eixo x) utilizando o programa Microsoft Office Excel 2016 (Gráfico 01).

A curva gerou uma equação de tendência linear, (y = 0,0063x - 0,01; R2 = 0,9994) que permitiu a determinação da concentração de fenólicos em cada grama de amostra de pólen por meio da absorbância proporcionada a 750 ƞm.

Gráfico 01 – Curva padrão de ácido gálico.
Fonte: Autores (2020).

2.1.1 Determinação de compostos fenólicos
Os fenóis totais foram determinados tendo como base a metodologia descrita por Andrade et al., (2017), com algumas adaptações realizadas pelos autores. Preparou-se soluções etanolicas de pólen com concentração de 0,3 mg/mL. Em seguida, alíquotas de 0,5 mL dessas soluções foram misturadas em 2,5 mL do reagente Folin-Ciocalteau 10%, 3,0 mL de carbonato de sódio 7,5%, adicionando ao final 3 mL de água destilada. Toda a análise ocorreu ao abrigo da luz. A mistura foi homogeneizada em agitador vortex, ficando em repouso em banho-Maria por 5 minutos com temperatura de 60º C.

Após o tempo previsto para a reação, a mistura foi lida em espectrofotômetro UV-Vis espectrofotômetro Evolution 220 UV – Visible Thermo Fischer ®) calibrado com comprimento de onda de 750 ƞm, em contraposição a um “branco”. Os resultados foram expressos em miligramas equivalentes de ácido gálico para cada grama de pólen (mgEAG/g pólen).

Construção da curva de rutina
Para determinar o teor de flavonoides presente nas amostras de pólen construiu-se uma curva padrão de rutina. Para isso, preparou-se rutina em metanol nas concentrações de 20 a 120 µg/mL. Em seguida, as absorbâncias encontradas foram utilizadas em um gráfico (eixo y) versus as concentrações de rutina (eixo x), plotado no programa Microsoft Office Excel 2016 (Gráfico 02).

A curva gerada segue uma linha de tendência linear, de onde obteve-se a seguinte equação de reta (y = 0,0072x - 0,0118; R² = 0,9999) que permitiu a determinação da concentração de flavonoides totais por grama de amostra de pólen devido a absorbância a 413 ƞm.

Gráfico 02 – Curva padrão de rutina.
Fonte: Autores (2020).

Determinação de flavonoides
Os flavonoides existentes nas amostras de pólen foram determinados com base na metodologia descrito por Andrade et al., (2017). Portanto, preparou-se concentração de pólen de 0,15 mg/mL. Logo após alíquotas de 0,8 mL dessas soluções foram misturadas com 0,8 mL de solução de Cloreto de Alumínio 2% e 1,4 mL de metanol, sendo que as diluições foram realizadas ao abrigo da luz. A mistura foi homogeneizada em agitador vortex e ficou em repouso por 25 minutos em temperatura ambiente.

Após o tempo estabelecido para ocorrer a reação, a mistura foi lida em espectrofotômetro UV-Vis (espectrofotômetro Evolution 220 UV – Visible Thermo Fischer ®) em comprimento de onda de 413 ƞm, contra um “branco” que continha todos os reagentes exceto a amostra de pólen. Os resultados revelados foram descritos em miligramas equivalentes de rutina para cada grama de própolis (mgER/g de pólen).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A quantidade de compostos fenólicos encontrado para as duas amostras de pólen teve valores variando de 2,16 ± 0,1 a 2,048 ± 0,06 mg em EAG/g de pólen (Tabela 01), tendo como média 2,104 mg EAG/g de pólen, resultado obtido com a formula gerada na curva padrão de ácido gálico (R² = 0,9994) (Gráfico 01).

Quantidades estas bem a baixo dos valores encontrado por Carpes et al., (2009) analisando pólen de diferentes lugares do Sul brasileiro, com média de 30,77 mg EAG/g. Essa diferença pode ser explicada por diversos fatos como, por exemplo, condições ambientais, estação do ano, localidade geográfica e vegetação consultada pelas abelhas coletoras, segundo afirma Nogueira et al., (2012).

Tabela 01 – Descrição dos valores de fenóis e flavonóides extraídos das amostras.

Amostras de pólen

Fenóis (mg EAG/g)

Flavonoides (mg ER/g)

P1

2,16 ± 0,1

0,9925 ± 0,05

P2

2,048 ± 0,06

0,8725 ± 0,003

Fonte: Autores (2020).

Na tabela 01 estão expressos a quantidade de flavonoides nas duas amostras de pólen, sendo que os valores encontrados variaram de 0,9925 ± 0,05 a 0,8725 ± 0,003 mg ER/g de pólen, com média entres as amostras de 0,9325 mg ER/g de pólen, valores obtidos devido a curva de calibração de rutina (R2 = 0,9999) (Gráfico 02).

Ao traçar um comparativo entre as quantidades de teores de flavonoides presentes no pólen de abelhas Mellipona sp. estudados neste trabalho, com produções acadêmicas recentes, notam-se inferioridade, esse fator pode estar ligado às condições de clima e flora, e substancialmente ao estresse sofrido pelas plantas fornecedoras do néctar.

Formiga et al. (2009), constataram em seus estudados que o teor de flavonoides está diretamente ligado às condições de estresse sofrido pelas plantas fornecedoras da matéria-prima. Leja et al. (2007), confirmaram após verificação de 12 espécies de pólen apícola que os teores de flavonoides diferenciavam consideravelmente em função da origem botânica, com variação de 170 mg.100g-1 no pólen de Lamium purpureum a 1349 mg.100g-1 no pólen de Pyrus communis. Além disso, inúmeros autores defendem que essa alteração de teor de flavonoides bastante evidente tem relação significativa com os tipos polínicos das amostras coletadas.

Rocha et al. (2010), afirma em seus estudos que os diversos compostos fenólicos e seus teores, entre eles os flavonoides, podem estar substancialmente ligados ao fluxo de néctar abundante em uma determinada vegetação, acarretando assim, dificuldade que as abelhas explorem fontes de açúcar variadas, dependendo da região em que se encontram as colmeias.

CONCLUSÃO 
Constatou-se que os valores encontrados para fenóis totais e flavonóides na amostra P1 e P2 expressaram uma pequena diferença, evidenciando quantitativamente a influência de interferentes naturais nas propriedades químicas das mesmas, por mais que ambas estivessem situadas no mesmo local de visitação. 

Por meio dos dados levantados ressalta-se a importância de se investigar a diversidade de pólen em regiões diversificadas da Ilha de Marajó, pois os achados podem revelar resultados promissores, já que as abelhas transportadoras destes fazem visitações a variadas espécimes vegetais. E assim contribuir com passos iniciais para estudos mais sofisticados, como a determinação e isolamento de compostos químicos. 

REFERÊNCIAS
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alimentar e nutricional e o direito humano à alimentação adequada no Brasil. Brasília,
DF: CONSEA, 2010.

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Comentários

  1. Vocês têm uma ideia de qual o tempo médio aproximado que se levaria para catalogar a diversidade de pólen da Ilha de Marajó e quais os recursos necessários para essa atividade?

    Sara Brigida Farias Ferreira
    Discente PPGPAM

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    Respostas
    1. Boa tarde
      Em relação ao tempo para catalogar a diversidade de pólen da ilha de Marajó, não é possível eu te falar de forma precisa, já que a geografia da região é composta de rios e campos alagados no período de inverno, ou seja, durante 6 meses do ano. Além da ‘gigantesca’ extensão de terra que é a Ilha de Marajó.
      Em relação aos recursos o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) possui uma cartilha de orientação para trabalhar com produtos da Apicultura.

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